Quinta-feira, 10 de Maio de 2007

HOMENAGEM

JOSÉ VIEGAS (ou ZÉ DA MÓNICA)

 

 

 

 

Isto é para se saber...

 

A história do Zé tem de ser conhecida. Porque isto que se lhe fez  foi uma canalhice. Na abertura de um novo blog, pretendo homenagear aqui o grande Zé da Mónica, porque  a mim me pareceu ser um grande homem apesar de simultaneamente ingénuo. 

Aí vai a história:

Zé da Mónica não tinha partido político nem nunca se lhe conheceu uma ideologia política definida. No entanto, perante a tragédia humana que se passou na Gerra Civil de Espanha começou a utilizar a sua embarcação para transporte dos fugitivos para a costa do Norte de África.

Fê-lo com tanto sucesso que atraiu as atenções da Marinha franquista, tendo esta, na ânsia de o apanhar, assassinado um outro pescador olhanense em pleno mar, João de Faro, por confusão.

Como Franco não o conseguiu eliminar, solicitou a Salazar os seus bons ofícios para o prender.

Chama-se a atenção que na época eram vários os contrabandistas que em Olhão ajudaram tanto estes combatentes espanhóis como democratas portugueses a fugirem para Marrocos. No entanto, nenhum chamou tanto a atenção dos ditadores peninsulares como Zé da Mónica.

Zé da Mónica esconde-se da Polícia Política na casa de Maria de Olhão (jornalista bem conhecida, que era então ainda uma criança) durante 2 anos (1937-38), saindo apenas algumas vezes à noite, vestido de mulher, para não o reconhecerem.

Por volta de 1938  Salazar concede amnistia política a Zé da Mónica, através de publicação oficial no Diário da República, no entanto, são muitos os amigos que o aconselham a não confiar na palavra do ditador.

Infelizmente, tendo adoecido um amigo (Tomás Saias), Zé da Mónica dispôs-se a vir trazê-lo a Lisboa, para o internar num hospital.

Um esbirro da Polícia Política enviou telegrama a dar conta da hora de embarque e do aspecto físico de Zé da Mónica para, mal chegasse a Lisboa, ser imediatamente preso. A verdade é que havendo vários homens vestidos da mesma maneira, a polícia não o conseguiu detectar à chegada do comboio. Só no Chiado, à saída do café "Brasileira", é identificado e preso.

Inicia-se um cadafalso de torturas  que o debilitam a ponto de a família não o reconhecer na última visita que lhe fez.

Quando chegou a Olhão não tinha as unhas, que lhe foram arrancadas durante as torturas!

Acaba por morrer pouco tempo depois!

 

O médico que lhe fez o certificado de óbito, ditou o diagnóstico de tuberculose mas, mais tarde, confessou à família que foi obrigado a mentir pela polícia política, e que nunca esqueceu o aspecto macabro do cadáver maltratado de Zé da Mónica.

 

PS: Em 27 de Dezembro de 2002, a Assembleia Municipal de Olhão aprovou por unanimidade uma moção de inclusão do nome do cidadão Zé da Mónica na toponímica de Olhão nos seguintes termos:

José Viegas da Fuzeta, mais conhecido por Zé da Mónica foi um cidadão de Olhão, perseguido, atraiçoado, torturado e, finalmente assassinado em 1941 pela Polícia Política do Estado Novo, devido ao salvamento que fez de muitos combatentes espanhóis no final da Guerra de Espanha.

Zé da Mónica não tinha partido político nem nunca se lhe conheceu uma ideologia política definida.

Zé da Mónica cometeu o seu "crime" - o salvamento de muitas vidas humanas - apenas porque aprendeu na sua terra que a solidariedade para com os mais fracos, a tolerância e o respeito pela liberdade dos outros, pode ser tão importante como a própria vida.

Zé da Mónica foi um cidadão genuinamente olhanense, não só por ganhar a vida como marítimo, como por possuir a tranquila rebeldia que historicamente caracteriza os olhanenses relativamente aos poderes instituídos, mas também pela solidariedade, amor pela liberdade e humanismo.

Num determinado momento histórico, Zé da Mónica testemunhou a desumanidade dos fuzilamentos no outro lado da fronteira. Poderia ter desviado o olhar como a maioria, mas não o fez!

Daí que se propõe que o Executivo camarário atribua a este olhanense, tão distinto como esquecido, o nome de uma rua da cidade.

 

Por ter  dado ao Zé da Mónica a possibilidade de ser recordado entre os seus amigos aqui vai uma grande abraço de gratidão para o Xico Leal, o actual Presidente do edil de Olhão  e nosso colega na Escola Comercial e Industrial de Faro. 

João Brito Sousa

 

publicado por SOUSINHA às 12:48
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De Katy a 11 de Maio de 2007 às 01:58
Muito bom exemplo. Agora cabe a todos nós segui-lo, mesmo que nos queiram tirar as unhas. Há que lutar pelo bem sempre. Não cansar...

beijinhos

Katy
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