O ARADO
Ao amigo MONTEIRO que nunca teve a felicidade de condzir um arado.
Era o meu utensílio preferido.
Anda bonita ... vai a rego laranja.. Era assim que Mestre Joaquim Boieiro falava com o gado. Com uma só mão na charrua, segurava na outra a aguilhada e falava aos animais.. Vai laranja...anda lá bonita, vai...
Nunca lavrei com vacas nem com bois. A minha especialidade era a mula. Lavrava e gradava a terra com a Licas, o muar de serviço que havia lá em casa. Era dia grande quando o meu padrasto me dizia: João, vais lavrar a folha grande na Hortinha da Mercedes Ladeira (terras arrendadas).
Ia buscar a Licas à cabana, desatava a arreata do cabresto que estava preso na argola da cabana onde ela dormia, punha-lhe o mulim no pescoço e depois o cabresto de sair para o carro, pegava-lhe pela arreata e metia-a debaixo da cangalho do carro de mula, que por sua vez, estava lá em cima, pois o carro estava apoiado no chão, pela parte de trás, .pela rabicha. Como o cangalho do carro estava lá em cima puxava – o com a ajuda do descanso, o utensílio de apoio..
Uma vez engatada a Licas no carro, vinha para a estrada com ela e conduzia-a através das arreatas ou rédeas, umas cordas que vinham do cabresto até `as minhas mãos, eu que ia sentado na cabeça do carro, logo a seguir à parte de trás da LICAS. As arreatas ajudavam a conduzir o animal, pois indicavamo-lo, puxando-se a arreata para o lado que queríamos que o muar se voltasse.
E assim chegava`a Hortinha .
Depois era só engatar a Licas no arado de madeira, que pegava com uma mão só, enquanto com a outra pegava nas arreatas para conduzir o animal.
E que belos regos que eu fazia.
Que felicidade a minha pela eficácia do trabalho realizado.
Que saudades.
E a Hortinha ainda lá está.
João Brito Sousa.