FIGURAS DA TERRA
A VENDA DO AMADEU
Deixando para trás o Mestre Joaquim Albardeiro e continuando a subida, à direita, logo a seguir está o edifício da Escola Primária onde penso a D. Feliciana do Patacão teria dado aulas. Em frente à Escola fica casa do Garriapa e continuando a subir, lá em cima à direita, fica a venda do Amadeu e da Maria Pires, dois comerciantes que fizeram fortuna em Santa Bárbara de Nexe.
Era ali que a malta se juntava às tardes, depois do trabalho e conversavam sobre coisas da vida, patrões que pagavam bem e patrões que pagavam mal,. Um dos clientes firmes desse tempo antigo era o meu tio António Bárbara, filho da tia Ermelinda e do meu avô Manuel de Sousa Farias, irmão do Cabinho da Mó, gente de bem e muito conhecida em Santa Bárbara de Nexe. O meu tio que teve uma juventude atribulada desde que o meu avô faleceu, dava-se muito bem com o pessoal mais antigo da aldeia, como o mestre Zé Padeiro, o mestre Zé Ferreiro, o António Lopes, o Pai da Malta e outros e era danado para a porrada. Disse-me ele que uma vez lá na venda, estava ele com uns amigos a beber um copo de vinho quando isto apareceu um “ parceiro” que, provocando, colocou o indicador dentro do copo de vinho de um. Quando chego à vez de meter o dedo no copo do meu tio, o meu tio disse-lhe: não metas o dedo no me copo... mas ele não quis saber de nada e meteu...claro, levou logo ali para contar e foi de tal ordem que foi cair em cima da lenha... A força essa grande arma da juventude, como diz Vergílio Ferreira..
Quem lá aparecia também na taberna a beber um copo era o Manuel Serôdio, um guardador de fazendas que metia medo a toda a gente, diziam que comia ratos... e er ao diabo. Um dia travou-se de razões com o meu tio António e claro ... ficou logo sem o cajado. O meu tio Xico, irmão do tio António, homem calmo e, dizem os que com ele conviveram, homem fixe e amigo, também dava por lá uma saltada ao fim das tardes para dar uma palavrinha ao irmão. Boa irmandade esta, de tal modo que ainda hoje se fala disso... grande irmandade aqueles Latinhas, é o que dizem....
Toda a minha família ia `a venda do AMADEU. As mulheres iam abastecer-se de mercearias e essa secção estava entregue à esposa, a D. Maria Pires, uma mulher de grande alcance comercial. Vendia-se ali de tudo; naquele tempo a mercearia do AMADEU substituía um Super de hoje...
Disseram-me há tempos, primeiro, que o AMADEU estava no Lar da Terceira Idade; disseram-me depois que o AMADEU já não estava no Lar.
Onde estará senhor AMADEU?
João Brito Sousa