O texto que se segue, “SABER NEGAR” é de Baltasar Gracián y Morales, in 'A Arte da Prudência'
“Nem tudo se há-de conceder, nem a todos. É tão importante quanto o saber conceder, e nos que mandam é consideração indispensável. Aí entra o modo. Mais se preza o não de alguns que o sim de outros, porque um não dourado satisfaz mais que um sim a seco. Há muitos que têm sempre um não na boca. Neles o não é sempre o primeiro, e, ainda que depois tudo venham a conceder, não se entende por que precedeu aquela primeira mágoa. Não deverão as coisas ser negadas de chofre: sorva-se aos tragos o desengano; nem se negue de todo, que seria desesperar a dependência. Que fiquem sempre alguns vestígios de esperança a temperar o amargor do negar. Que a cortesia encha o vazio do favor e que as boas palavras supram a falta das obras. O não e o sim são breves de dizer, e pedem muito pensar.
BIOGRAFIA:
Baltasar Gracián y Morales
(Belmonte de Gracián, 8 de janeiro de 1601 — Tarazona, 6 de dezembro de 1658) foi um importante prosador espanhol do século XVI ao lado de autores como Francisco Quevedo e Miguel de Cervantes além de teólogo e filósofo.
É conhecido como líder do concepticismo, estilo literário caracterizado pela sobriedade e a concisão. Sua obra inclui seis livros: alguns sobre a arte da escrita e outros sobre a ética da vida, nos quais publicou usando um pseudônimo. Estes livros tiveram sua verdadeira autoria descoberta e o autor foi punido com a proibição de publicar seus escritos e a perda da cátedra.
COMENTÁRIO:
Eu penso que a conclusão a retirar deste texto de MORALES vai na direcção daquela afirmação de Lucas Pires, quando diz que o não também é democrático.
O texto de MORALES contem verdades e apela a boa educação que deve existir no relacionamento entre pessoas dentro de uma hierarquia. Uma palavra mal dita, em termos de ênfase, pode gera um inimigo.
Quem dirige tem de saber o valor cénico das palavras. Pode dizer-se sim ou não de cem maneiras. Teremos sempre de analisar e verificar as circunstâncias da utilização do tom a dar à palavra.
João Brito Sousa