A VENDA DO PAPO SECO...
As vendas eram lugares de comércio onde o pessoal do campo ia fazer as suas compras ou beber um copo de manhã, à tarde ou à noite. As vendas ou locais de venda, eram estabelecimentos onde se vendiam bens alimentares e bebidas alcoólicas avulso, tendo desempenhado bem o seu lugar na zona onde estavam inseridas. No Patacão havia aí umas quatro ou cinco; a do Papo Seco, a do Bernardo Piriquito, a do Martins a do José de Sousa e a do Passos.
A venda do senhor Reinaldo, a quem chamavam o Papo Seco, ficava ali à direita de quem vem de Faro, antes do Mestre Serafim, o barbeiro que cortava o cabelo à gente por três escudos e era o Pai da Lurdes que casou com o Manel Piedade, filho do caiador e que mais tarde havia de ser contínuo na Universidade do ALGARVE e que morreu sem me dizer nada. O Manel era boa praça e quando se ria dava umas gargalhadas enormes e lá ia. Os outros irmãos da Lurdes era o Artur que chegou a Oficial do Exército, outra era a Fernanda e outra que era a Lucrécia que vive no Canadá e ainda o Custódio que vive e trabalha também no Canadá e que ganhou lá um totobola ou totoloto no valor de dois milhões de dólares.
Na venda do Papo Seco quem servia as cervejas era uma rapariga nova que trabalhou lá muito tempo ao balcão e tinha muito jeito para o negócio. Quem era lá um assíduo frequentador da venda era o Joaquim Portela que passava lá quase as tardes todas, bebia uma cerveja ou duas e conversa com a donzela para a frente. A venda servia também almoços aos camionistas que por lá passavam, entre eles o meu sogro que trabalhava no Aeroporto.
O castiço era quando chegava o Ti Manel Catrunfa, fazia a sua despesa e depois ao pagar, perguntava, quanto é a despesa menina?... é cinquenta, dizia ela. E ele, o Ti Manel, muito inchado perguntava-lhe: ó menina, então diga lá de que qual algibeira quer que tire o dinheiro para pagar a despesa?... e a menina dizia.. olhe, pode ser dessa algibeira ai ao pé dos tomates.... e o Ti Manel ria e a coisa ia....
O Ti Manel Catrunfa era um velhote giro, escorreito, magro e devia de ter sido um rapaz com pinta nos seus tempos de juventude. Era um homem agora aí dos seus setenta anos, boa gente e tinha cinco ou seis filhos. Era muito amigo do senhor Reinaldo e da mulher, a D. Lídia que era quem geria o restaurante, pois o Reinaldo, sempre muito bem vestido e penteado, andava sempre na gandaia, mas era boa gente.
A venda tinha um snooker e quem jogava lá muito era o António Borrego, que era cunhado do Joaquim Mestre. O outro era o Julião, o filho da professora. O José dos Santos, o Custódio Mariano, o Zé Quintas... era tudo malta que aparecia lá.
E lá para as dez horas da noite íamos para cima da ponte, da parte de trás do senhor Martins, ouvir oZé Navalhas imitar o Clementino Baeta.. Assim,
Estas putas dum cabrão
Não me deixam alomoçar
Ora palha ora carvão.
Não me deixam descansar.
João Brito Sousa