“No Porto não se pode ser diferente, tanto pela cara como pelas botas. Se se e´, vem a suspeição. O Porto quer saber. Antes o Porto precisa saber....”.
AQUILINO RIBEIRO em “Caminhos errados”
Nascido a 13 de Setembro de 1885 no concelho de Sernancelhe, freguesia de Carregal de Tabosa (uma lápide assinala a casa onde se julga que nasceu), filho de Mariana do Rosário Gomes e do padre Joaquim Francisco Ribeiro, tem uma infância, ao que se sabe, de miúdo um pouco mais que travesso, a tal ponto que ainda hoje é possível encontrar na zona quem tenha ouvido contar histórias picarescas de um menino destinado pela família à vida de sacerdócio. A sua ida para o Colégio da Senhora da Lapa, em 1895, seria o início de um percurso que o leva seguidamente para Lamego, mais tarde para Viseu (ano de 1902), onde vai estudar Filosofia, e, pouco tempo depois, para o Seminário de Beja, frequentado, ao que consta, pelos ordenandos mais recalcitrantes. Em 1904 é expulso do seminário, depois de ter dado uma réplica cortante a uma acusação do Padre Manuel Ançã, um dos dois irmãos que ao tempo dirigiam a instituição.
É um dos romancistas mais fecundos da primeira metade deste século. Inicia a sua obra em 1913 com os contos de Jardim das Tormentas e com o romance A Via Sinuosa, 1918, e mantém a qualidade literária na maioria dos seus textos, publicados com regularidade e êxito junto do público e da crítica.
Segundo o próprio Aquilino, a sua vocação de escritor ter-se-á manifestado desde cedo, quando o professor de português, um velho clérigo, pediu aos seus alunos que escrevessem um diálogo entre uma abelha e um piano. Fascinado pelo tema, Aquilino escreveu um texto saudado pelo professor como uma verdadeira revelação de um escritor.
COMENTÁRIO:
Não parecendo Aquilino e um homem deixando transparecer isso nas sua obras. Em Caminhos Errados diz ele: “Se é certo que na mulher, em matérias de graças, ce sont les jambes la première chose quón écarte e ainda....”Agarrou-se a mim aos abraços porque não sabe beijar. Beijar é uma arte de civilizados, que ela ainda não teve ensejo de aprender, nem serei eu que lhe dê lições, não vá por lá a cascaroleta abusar da minha confiança.”
Nas suas obras pode ver-se como era a vida dos representantes da Igreja nesse .tempo. Em Príncipes de Portugal, grandezas e misérias pode ler-se:- “ Muitos dos padres do meu tempo são honrados pais e família e ninguém lhes pede contas de tal humanidade.” E ainda “ Sobre os Padres, são uma grandessíssima corja de calaceiros e de velhacos e só andam no mundo para sugar o sangue do pobre”.
Para Vergílio Ferreira, Aquilino é um escritor regionalista, com o qual concordo, mas deve acrescentar-se que Aquilino traz para as suas obras as palavras das aldeias defendendo assim a língua portuguesa e protegendo-a no que ela tem de mais puro e genuíno.
Quanto à frase que coloquei... diz-me o senhor Fernando, onde corto o cabelo, que no Porto já não é assim. Foi assim...
João Brito Sousa