A PROPÓSITO DO DESAPARECIMENTO DAS HORTAS DOS BRACIAIS E DO PATACÃO...

Por ARNALDO SILVA
As Hortas do Patacão. As outras hortas dos Patacães deste país. As hortas que havia e o que resta delas... O seu peso na economia daqueles tempos e a falta dele nos tempos que correm. Sempre que me desloco por este Algarve e por este País sou confrontado com a mesma desoladoura paisagem caracterizada pela ausência de agricultura, pelo ar de abondono que todos os campos nos oferecem ou pela desenfreada invasão urbanística que noutras áreas se vê patenteada.
E sempre duas preocupantes perguntas me se me ocorrem, a saber: - porque deixou de ser rentável a exploração das hortas e dos campos de lavoura do meu País ?, e - porque tiveram os filhos dos agricultores de se tornarem doutores deixando as terras sem elementos que a explorem? Para responder a qualquer daquelas perguntas seria necessário escrever um grande tratado de economia, para o qual, obviamenete não me acho minimamente preparado.
Mas não posso deixar de comentar que, nesta aldeia global em que o planeta está transformado, encontramos em qualquer mercado uvas do Chile, Kiwis da Nova Zelândia, melões da Colombia, batatas da Holanda, ... Para não mencionar os produtos da vizinha Espanha que passou a abastecer mais uma província da Peninsula Ibérica, com a mesma facilidade com que já abastecia as suas.
Produzindo o sector agrícola um produto de consumo imprescindével para a sobrevivência do ser humano, pergunto-me, porque terá sido que por aqui se tenha abandonado a sua exploração?! E, parece-me, só a justificação da falta de rentabilidade não será suficiente. Membros dos vários governos dos últimos lustres terão muitas responsabilidades na debamdada operada.
Obviamente, as transformações do tecido social têm também um forte peso nas causas que levaram ao êxodo rural. O natural desejo dos pais de verem os filhos presenteados na vida com um futuro que consideram ser melhor do que o deles, levou a que todos ansiassem por ve-los doutorados, fora da escravidão da terra, sem calos nas mãos. Por aí, talvez, tenha passado muitas das causas do triste panorama que nos é oferecido hoje. Atitude e desejo, nada condenável, naturalmente!
Mas, considerando que numa sociedade não pode haver só doutores, sob pena de esta fenecer por falta de sustento, porque não terá havido sucessão de agricultores explorando a terra?! Porque o desenfreado desenvolvimento urbanístico permitiu praticar preços de negociação de terrenos de tal forma elevados que não deixaram outra solução aos seus proprietários, por demasiado aliciantes, que não fosse o da venda. Este factor, conjugado com o desinterese pelas terras dos directos herdeiros e pelo natural anseio de reforma do agricultor de então, forçada pelo inevitável apelo da vida limpa da cidade, levou ao caos que ora se apresenta.
Tenho pena! E tenho muito receio de que um dia não se tenha forma de gerar aqui o dinheiro suficiente para se comprar as uvas do Chile, as batatas da Holanda, os kiwis da Nova Zelandia, os... O défice da nossa balança comercial aumenta todos os anos. O défice da balança de pagamentos aumenta na mesma proporção!
A pouca indústria de que dispunhamos vai desaparecemdo, vomitamdo desemprego todas as semanas! Estará alguém responsável pensando e analizando este fenómeno sócio-económico?! Espero e desejo que sim. Por mim, pelos meus concidadãos. Mas principalmente pelos filhos e netos deste país. O renascer das Hortas do Patacão deveria estar na mira de alguém com poder de decisão. Que renasçam!
arnaldo silva felizmente reformado
MEU COMENTÁRIO.
Quero felicitar o meu amigo Arnaldo Silva pelo excepcional texto que produziu. Muito bem. Sinto-me orgulhoso das suas visitas e colaboração aqui.
Aí vai um grande abraço para o Arnaldo Silva do
João Brito Sousa